CÂNTICO RÚSTICO
FRANCISCO MARQUES DA SILVA
Apresentação
Escrever não é apenas um trabalho intelectual ou um arroubo da inspiração, mas um trabalho braçal, físico que leva o seu autor a tirar sangue dos olhos e da alma. O triste de tudo isso é que, em muitas ocasiões, tanto esforço não se faz compreensível pelos leitores que, também, nem concordam com as idéias de seu autor.
No ato da escrita, a opinião de outrem é o que menos vale: a idéia e a inspiração que não se sabe de onde vêm ou para onde vão é o que importa porque, do mesmo que surgem, desaparecem sem deixar vestígios ficando o poeta, então, perdido numa busca infrutífera de sua produção. Contudo, só depois, muito depois de um reencontro com elas, o rascunho de um texto aparece desafiando o artista que sai deixando entrar na parceria o artesão da palavra para que ele seja o seu algoz primeiro, pois, a partir desse momento, o texto adquire vida própria e segue o seu caminho nas mãos, nas bocas e nos olhos do leitor que irá tecendo a sua opinião dependendo do grau de sensibilidade mútua do leitor e do autor que darão razão a existência da obra escrita e lida.
Um dos estilos de composição que mais sofre o crivo da crítica é o poético porque ele toca de um modo particular quem o ler; ora, chegando à raia da pieguice, ora da realidade fria e parnasiana. Nesse CÂNTICO RÚSTICO, não procurei ficar preocupado nem com uma coisa, nem com a outra. Apenas deixei fluir o sentimento expresso em cada palavra, em cada verso que se tornou um grito de liberdade ao meu espírito ansioso por ser ouvido e acalentado.
DAÍ-ME FORÇAS, OH MEU DEUS,
QUE MEU GRITO
É UM SUSSURRO PERDIDO
NA IMENSIDÃO DO UNIVERSO.
A busca da pessoa amada nos leva a não se enquadrar em nenhum estilo literário, porque o importante é o sentir, o viver, o buscar as esperanças no aconchego de um abraço ou no calor de um beijo ardente. Isto é ser gente, isto é ser humano e, nesse ponto, por mais que não se queira aceitar, todos somos iguais mesmo que se esconda por trás de uma máscara estampada em nosso rosto.
VENS, MULHER, QUE DE AMADA,
AGORA, PASSOU PARA UMA NECESSIDADE MAIOR
DE QUERER-TE E QUERER-ME
COMO SOMOS NA SIMPLICIDADE DAS COISAS
PROVOCANDO-NOS UM DESEJO MAIOR
PARA BUSCAR A VIDA
ONDE NÃO HÁ A GERMINAÇÃO DAS ROSAS.
Assim é esse CÂNTICO RÚSTICO, uma preocupação apenas com o momento e com as razões de se atender a voz pura e musicada pelo encordoamento vibrante desse instrumento maluco chamado coração.
POR ISSO, POR QUE NÃO OLHARMOS
ALÉM DE NOSSAS ALMAS
E DEIXARMOS OS QUE OS ANJOS
ILUMINEM-NOS O CAMINHAR
SOLIDIFICANDO A PUREZA DE NOSSO
AMOR
NA ARDÊNCIA VIVA DO FOGO DESSE SENTIMENTO
QUE, QUANTO MAIS QUEIMA, MAIS PURIFICA
NOSSA CONSCIÊNCIA E O NOSSO ESPÍRITO?
Francisco Marques da Silva
QUERER-TE
Nunca te quis apenas carne,
Nem apenas por alguns momentos de prazer,
Mas como vida e garra nesse caminhar
Às vezes, tão complicado
A nos esmorecer as forças.
Sei da felicidade que te causo
E do mal criado para nos torturar
Impedindo a pureza desse divino sentimento
Crescendo a cada dia
Solidificando as nossas almas.
Eu não te quero apenas corpo,
Mas tu como um todo: fogo e paixão,
Sonho e realidade,
Dia e noite,
Carne e espírito
Nessa ardência da vida que nos faz
Tão bem pela verdade que existe
No íntimo das coisas simples
Criadas por nós, nos dando a coragem
Para enfrentarmos as asperezas da vida.
Eu te quero mulher companheira,
Amada e amante,
Porque só seremos felizes
De braços dados refazendo a vida
Rolando no bater das horas.
CÂNTICO RÚSTICO
Ânsia repouso, o medo
Apodera-se de mim e o homem foge,
E o menino desprotegido surge.
Sinto não mais haver a força, o riso
E a vontade de viver
Não mais viaja em mim,
E não me encontro, e não reflito
Naquilo que sou na caminhada do dia.
Há uma vontade louca de me matar,
Uma vontade louca que não tem jeito
De não mais olhar as estrelas
E abraçar o nada...
E o medo cresce vertiginosamente:
Medo do desconhecido,
Medo da vida,
Medo de mim,
Medo de ti...
E o medo da perda
De não mais sonhar o sonho,
Essa idéia palpitante e vaga,
A me conduzir ao nada.
À noite, o menino desprotegido
Recolhe-se no frio da solidão
E a esperança
De caminhar contigo
A semear a vida
Vê que não há mais a correspondência:
O amor unilateral é vago
E sem razão de existência.
O homem, o herói e, talvez, um deus,
Um mito a se iludir com a vida,
Deixa de existir no vago da solidão
E o destrói no choro e no medo:
Medo do desconhecido,
Medo da vida,
Medo de mim,
Medo de ti
Na busca da imagem existente que fui
Dando-te forças para agarra o infinito
E, hoje, não é mais que um menino
Se desprotegendo da vida
A perder a cada minuto que passa,
O desejo em ti de buscá-lo
E o aconchegá-lo em teu peito
Para que posso gritar aos ventos
Que viver, ainda, talvez, valha a pena.
ACEITAÇÃO
Eu não queria aceitar,
Mas tuas palavras amadureceram
Meu coração que busca motivos
Para aceitar a vida
Real como sempre foi.
Eu não queria aceitar
Que, para sorrir,
É preciso trancar-se em si,
Buscando a solidão como companheira,
Não tão inseparável,
Mas aceitável.
Eu não queria aceitar
Que, em tua fragilidade de menina,
Há a realidade da mulher
Pé-no-chão e de coração sincero
A olhar constantemente o horizonte
Buscando a vida ardente de nosso ser.
Eu não queria aceitar
Tudo isso que disseste,
Mas o bom senso
Leva-me à aceitação de ti
E dessa realidade a que me conduz
Como os rios correndo para o mar
E o meu sangue,
A viagem mágica em tuas veias
A nos levar ao cume da montanha.
BUSCA
Como é que se pode cantar,
Quando o amor se despede
Do corre-corre da vida do povo?
Como é que se pode cantar
Quando não há mais tempo
Para olhar a simplicidade da vida?
Como é que se pode cantar
Quando o abraço cruel dos interesses
Materializa-se nos corações humanos?
Como é que se pode cantar
Quando não há mais a graças
Nos abraços que a esperança nos dar?
Contudo é preciso encontrar
Motivos para a canção
No fio tênue da beleza,
Na força que se cria
Na procura da sabedoria
E nas vibrações dos sons...
...a esperança é a única que não morre
No enfraquecimento do espírito:
Dai-me forças, oh meu Deus,
Que meu grito
É um sussurro perdido
Na imensidão do infinito.
SOLIDÃO
Nada é tão difícil de suportar Quanto sentir-se sozinho:
A solidão amedronta,
Aterroriza,
Tortura
Como um cruel algoz.
Talvez, não fosse tão difícil suportar
Tão incompreensível dor,
Se ela acontecesse por desejo
De buscá-la como fonte de inspiração
E, não como obrigação de tê-la
Como companheira inseparável
Onde o teu riso,
A luz do teu olhar
E a ardência de teu corpo
Buscam a distância de mim
Como solução para solidificar o amor.
Desta forma, a solidão é tortura
Porque torna cada segundo,
Micro fração do tempo,
Uma eternidade de tua ausência.
CÂNTICO DA ENCANTADA
ESPERANÇA
Onde andará a esperança fugindo de mim Na sucessão das horas e no correr dos dias?
Andará, então, na música do rádio, ao longe,
Cujas letras parecem terem sido escritas para mim
Onde a cada batida dos instrumentos
Aumenta mais ainda essa dor desatinada,
Ou estará a esperança em tua foto,
Ali, em repouso, na parede, exibindo teu riso
Belo sussurrando em meus ouvidos uma canção alegre
Dando-me forças para eu seguir adiante?
Onde andará a esperança
Se, para mim, os dias passam
Sem a graça do alvorecer,
Sem o frescor das manhãs
Vendo crescer mais ainda a necessidade
Do calor de teu corpo cobrindo o meu?
Que bom saber de tua voz numa música doce Dizendo:”oh, menino velho, a lua É a mais bela dama da noite. Vá vivendo, Tenha calma, o futuro, Deus dará.”
Onde andará a esperança
Quando a sombra negra da morte
Tão indesejada sorrir zombeteira,
Chamando-me constantemente
Para o aconchego de seus braços
Parecendo uma solução
Mais adequado aos meus lamentos?
Contudo, o meu medo ainda grande,
Dá-me coragem para rejeitar
Impiedosamente os seus encantos.
Onde andará a esperança
Teimando
Em não mais me sorrir
Enquanto o encanto de tua voz, ao longe,
Trazia a preocupação ingênua comigo
Se o banho que refaria as minhas forças
Foi tomado, ou se o almoço me fez bem?
Onde andará a esperança?
Olho-me no espelho e vejo o meu rosto
Que nem é mais o meu rosto
Com o riso e o brilho da pureza
Dos anjos que nos acompanham;
Sinto não me reconhecer nesse rosto envelhecido
Sem graça, triste e tão caído
Atropelando os sonhos.
Todavia, lá no fundo de meus olhos,
Uma chama tênue, ainda fraca,
Brilha nestas pupilas cansadas
E maltratadas pelos caminhos que trilhei,
Pelos sapos que engoli,
Pelas lágrimas contidas em altas madrugadas.
Essa chama brilha e me encoraja Mesmo que a solidão teime Em me acompanhar nestas noites Longas e lastimosas e nos dias sem graça, Monótonos como as cantigas dos grilos.
“Vá vivendo, o futuro a Deus pertence.” Deus, o único sabedor de minhas fraquezas, Ainda mostra ao meu coração Mil razões para o encantar da vida E nessa crença no falar desse anjo Branco e brando de menina velha Satisfazendo o sossego de meu espírito Dizendo baixinho em meus ouvidos:
“_Oh, menino velho, estarei sempre contigo Quando a solidão bater mais forte.”
FORÇA MAIOR
Meu pensamento não se perturba
Quando essa imagem de ti
Materializa-se em minha mente
Oferecendo o néctar dos deuses
Ao meu coração conhecedor do amargor
Da solidão
A perseguir-me o sossego.
Essa tua imagem percorrendo
O infinito das estradas
Rumando às estrelas
Provoca-nos o prazer dos encontros
Tão necessários em nossas vidas.
Vens, mulher, que de amada,
Agora passou para uma necessidade maior
De querer-te e querer-me
Como somos na simplicidade das coisas
Provocando-nos um desejo esplêndido
Para buscar a vida
Onde não há a germinação das rosas.
Para buscar a vida
Onde o desamor imperou,
E, hoje, se esvai como fumaça ao vento
Não encontrando a consistência do existir,
Porque a pureza do amar
É mais forte que a essência da vida,
E é ela que buscamos a cada instante que passa,
E é ela que nos conduz à beleza do Paraíso.
MAIS FORTE
Mais forte que tu,
Mais forte que nós...
É esse desejo que nos leva
À união de nossos corpos,
À realização de nossas almas
E a bênção divina desse sentimento.
Mais forte que nós,
É esse amor que não nos cega,
E nos leva a enxergar o horizonte,
E a pisar o chão com a consciência
De que amor se faz com amor
E que o ódio por si, só, se anula.
Mais forte que nós é essa força
Que nos abre os olhos
E nos une
Como se cada segundo perdido
Fosse irrecuperável
Na falta um do outro...
Por isso, por que não olharmos
Além de nossas almas
E deixarmos que os anjos
Nos iluminem nosso caminhar
Solidificando a pureza de nosso amor
Na ardência viva do fogo
Desse sentimento que,
Quanto mais queima, mais purifica
Nossas consciências e nossos espíritos?
ESCLEROPOÉTICA
Em meus poemas as palavras
Envelheceram e perderam a graça
No ritmo suave de seus versos
Quando ainda dizem “eu te amo.”
Elas buscam no azul do céu
E no mundo fantástico da poesia
A musicalidade das sílabas de teu nome
Adoçando meus lábios no ardor
E na querência maior de teus beijos.
Minhas palavras perderam o vigor
Da juventude e a beleza
Na ironia provocada
Pelo sadismo da saudade
Rindo de meus sonhos
Ainda buscando a esperança
De tua ardente companhia.
Não! Minhas palavras rejuvenescem
Quando sentem o valsar das sílabas
Marcantes de teu nome em minha boca.
VISUALIZAÇÃO
Hoje, meus olhos enxergam
O longe e a miragem
E as experiências que a vida me impôs
Quase como uma obrigação de aceitá-los
E levam-me a diferenciar
O sonho da realidade;
O Eros da Psiquê
E a aceitar o caminhar no chão,
Única estrada para alcançar os céus
E banhar-me na luz das estrelas.
Teus olhos, meus companheiros de sonhos,
Iluminam com sua luz viva
A esperança da alegria de meu caminhar,
Antes, triste e desesperado,
Hoje, vivo e real
A buscar teu corpo e tua alma
Como equilíbrio e harmonia
De meu espírito desejoso de ti.
SOLIDÃO
Às vezes, na solidão
De noites mais lastimosas,
O tempo estica a sua duração
Tornando os segundos do relógio
Momentos eternos
Que teimam em não findar.
É desta forma que não consigo entender
O porquê de se buscar a solidão
Como solução para encontrar a paz.
É assim que não consigo aceitar
A vida sem o teu caminhar comigo
Concretizando sonhos
Teimando em não nos abandonar;
É assim, na eternidade das batidas
Monótonas do relógio
Que não entendo a solidão
Como solução para a tranqüilidade da vida.
UMA CANÇÃO RÚSTICA
Nunca fui um deus.
Acho até que eles me abandonaram.
Minha ânsia de alcançar os céus
Levou ao inferno
Do esquecimento de mim.
Os rios correm para o mar
Não importando as curvas.
Os ouvidos se ferem com minha voz
E as casas fecham as janelas
À minha sombra rústica
Batendo de porta em porta.
O homem nem se importa com o homem,
Nem com as canções delicadas dos sonhos:
A poesia do cotidiano é concreta
Enquanto tortura a alma
Na desesperança da paz.
Rasgam-me o espírito
Ainda puro, ainda brando
Na negritude da realidade
Deixando-me sufocado
Na esperança da felicidade
Que foge e se esconde de minhas mãos.
Olho para o rosto do povo que passa
E vejo apenas rostos nada mais que rostos
Sem expressão e sem o brilho do olhar
Que tanto me levava ao cume da montanha.
E não mais o canto harmonioso do verso
Sente o prazer de delirar em meu poema.
Resta-me o caminhar solitário das almas,
E a mudez das palavras,
E a invisibilidade do amor
Já tão abstrato como a ilusão de sua existência
Meus olhos vêem o vulto dos rostos
Embotados de lágrimas
E apenas vulto, vulto e nada mais.
Onde colocar meus pés sugando a terra?
Onde colocar a força fugindo
De minhas mãos?
Onde buscar a vida enquanto a poesia
Perde a sua existência?
TRANSPARÊNCIA
Uma das coisas mais belas do mundo
É ver o nascer e o pôr-do-sol.
Eles nos dão uma sensação física
Da presença de Deus
Tornando-nos felizes por viver
Tendo essa dádiva divina.
Hoje, neste instante, os vejo passarem por mim
Como lixa arranhando-me a pele
E a me sufocar a voz,
Não porque sejam terríveis algozes,
Mas pela falta que fazes:
Não sentir a tua presença, em mim,
E beber o vinho amargo do desprezo
De teu coração
É ver o tempo fugir, levando a beleza
Ardente de todas as conotações possíveis
Da palavra amor.
Ele, o amor, nunca foi egoísta, nem impuro;
Ele é de uma simplicidade tão grande,
De uma pureza tão transparente
Que fica deslocado da realidade
Tão pura,
Tão crua,
Tão amarga,
Tão maldosa
Tornando esse belo sentimento numa coisa banal.
É essa pureza transparente que vai torná-lo
Mais forte que tudo que traga
O amargor das coisas impuras,
A maldade das línguas más,
A tortura do corpo físico da solidão
E as conseqüências tentando nos afastar.
As razões verdadeiras nos tornando
Pessoas amantes da vida rolando lá fora
E compreensíveis aos anseios um do outro,
Porque amar consiste em quebrar e vencer barreiras
Crescentes a cada instante como se estivessem
Tentando nos levar aos limites de nossas almas.
É a pureza do amor que nos torna crianças, Porque toda criança é como anjo Pela transparência e verdade no sentir:
Não há a lepra da mentira nas ações delas;
Toda criança é como rei Na consciência da palavra:
Palavra de rei é confiável;
Toda criança é como criança
Que se morde e se belisca
E depois se beija, e se abraça
Porque o doce de um beijo
É o melhor açúcar para alma,
E o calor de um abraço,
É o melhor apoio que
Que o ser humano pode ter.
Eu, que não mais sentia a
A vida vibrando
Em meus sonhos,
Nem o calor do sol com sua luz
Iluminando-me os caminhos,
Trago hoje, ainda latente,
A esperança
Dando-me alento para buscar a vida
Porque é em ti, em mim,
Que busco, a cada momento, viver feliz.
Um homem sem o um sonho não é um homem.
Sem o sonho não sabe sorrir,
Nem distribuir o brilho desse riso
Porque não encara, com maior veracidade,
As asperezas dos caminhos da realidade
E não tem a coragem para desbravar
desconhecido,
Pois não traz a certeza dos sentidos.
Oh, amada, a repetição constante
Do dizer “ eu te amo” não pode ser
Uma canção monótona a nos afastar
E, sim, mais um tijolo na construção
De nosso amor
Abstrato na visão dos outros,
Mas concreto no doce de nossos beijos
E no calor de nossos abraços.
Oh, amada, amamo-nos
E não está em nós
O poder de fugir a essa realidade.
PARTILHA
Quando se tem com quem compartilhar
Uma grande dor
A nos torturar a intimidade
De nossos corações,
A vida sorrir tranqüila
Aliviando-nos o espírito.
Um espírito amargurado e torturado
Faz-nos caminhar
Sem o equilíbrio da consciência,
E produz um fogo líquido
Queimando-nos a face
Quando a fragilidade das lágrimas
Rola vertiginosamente para o vazio
Tirando o brilho de nossos olhos.
É preciso o aconchego de um abraço
Forte, fraterno, amigo e amado
Impulsionando-nos à frente da batalha,
Tornando-nos heróis de nós mesmos,
Porque aprenderemos a cantar
Encontrando na vida, mil razões
Para vivê-la e sermos felizes.
DESCONHECIMENTO
Desconheço o amanhã e o renego
Na dúvida de tua companhia.
Olhemos o vento sussurrando Em nossos ouvidos o canto Da melodia de Eros e deixemos O mar acariciando nosso caminhar Pelas areias enquanto renovaremos O pacto de nosso amor;
E valsemos ao sabor do tempo Em busca de nos tornarmos felizes.
Vem, amada, o sol aquece o brilho De nossos olhos:
É preciso entender
A mensagem dos anjos
Que nos guardam e nos protegem
Do desamor pairando no ar.
SILÊNCIO
Esse silêncio absurdo e torturador
Nem deixa que eu aprecie
A musicalidade dos grilos,
Nem o canto belo das estrelas.
A batida do relógio, sempre monótona, Nem acompanha o ritmo Alucinante das cordas de meu coração.
A noite segue, cega, em trevas, E a luz elétrica dos portes Chega baça e acanhada Pelas janelas do quarto Mais lenta que a tristeza do tempo Teimando em não me abandonar.
Levanto-me, suspiro fundo
E o ar frio da noite
Bate desrespeitosamente em meu rosto
Levando consigo mais uma lágrima
Que deixa chagas profundas
Desfigurando o riso belo de um sonho bom,
Companheiro de noites embalando
Meu canto, quando teu cheiro,
Em minhas mãos, me acalma a alma.
TRAIÇÃO
À noite, este silêncio absurdo
Trai-me as forças
Provocando a fuga de mim,
Do homem, do sábio, do intelectual e do herói...
Daí, surge o menino desprotegido Temendo os habitantes da noite, Verdadeiros demônios invisíveis A perturbar-me o sossego.
A noite trai-me!
Este ato amargo é o fel de meu espírito Tirando-me as possibilidades De evitá-lo pelas madrugadas.
O nascer do sol faz-me
Buscar os paramentos de guerra
E meu grito ecoa pelas montanhas,
Enquanto o bárbaro guerreiro cavalga
O seu corcel pelas ruas
Numa bela imagem apocalíptica
De quem não teme o maior dos inimigos:
Solidão!
Ao chegar a noite, ela bate mais forte E sorri zombeteira de meus sonhos, E crava suas garras em meu coração, E suga as lágrimas de meus olhos...
E morro erguendo os braços às estrelas.
Onde a minha armadura,
A minha capa,
A minha espada,
A minha máscara
E o meu escudo
Fortalecendo o meu corpo,
Tornando-me o herói a combater os inimigos
Teimando em me enfraquecer a alma?
Onde andam as minhas armas Que me levam a vencer as batalhas Do maior engano de mim?
Onde anda você, amada,
Seu corpo, seu riso,
Seu olhar, a sua alma
A me darem coragem para viver?
Onde anda o seu calor A me aquecer o corpo Em noites friorentas?
Onde andam a esperança
E a coragem para sorrirem
Quando o manto da noite
Envolve o meu ser
Impossibilitando-me os sonhos?
Sim, a noite me trai
E eu nem sei que caminho seguir...
Apenas fecho os olhos
Entregando o meu corpo
Ao aconchego da cama, dos lençóis
E da solidão.
Hoje apenas espero o sol amanhecer.
Sim, simplesmente, a noite me trai!
PROVOCAÇÃO
Tento provocar, a cada minuto do dia, A alegria que possa dar alento A esse espírito moribundo Detestando o sofrer E o seu caminhar pelas sarjetas Da dor Perseguidora de meu canto Ainda feliz em teus ouvidos.
Contudo, o mundo da poesia Opõe-se ao da realidade E vago, em vão, Buscando forças na luz Maravilhosa dos teus olhos.
Desculpa-me não mais ser o herói...
Nem um deus:
As forças que me sustentam o corpo
Exaurem-se a cada passo dado
Distanciando-nos para o abraço de nosso amanhã.
Desculpa-me não mais ser o herói Para te salvar do anjo mal Da realidade que nos tortura.
Nunca fui o sonho de alguém
Porque sou real,
Às vezes, sou forte e grito
Para afugentar o medo,
Mesmo que ele seja, muitas vezes,
Mais forte que eu e me conduza
Aos cárceres da angústia
Enfraquecendo-me a alma.
Desculpa-me não ser o herói:
Eles já não me causam
Nenhuma admiração,
Nem deixam que os sonhos
Habitem meus caminhos.
Ando em estradas pedregosas Machucando-me os pés Ainda caminhando em busca Da esperança do riso puro de teu rosto Em mim, buscando o aconchego de teu peito.
O SOL AINDA BRILHA LÁ FORA
Minha fada encantada,
Cadê o brilho de teus olhos
E o riso nesses lábios maravilhosos?
Não vês que tu és mais forte
Que essa nuvem negra
Tentando, teimosamente, nos cobrir?
Olha o sol lá fora como brilha!
Ele derrama sua luz sobre os bons e os maus.
Mas só os fortes absorvem,
Entendem e refletem o seu calor.
Tu és assim:
Forte, bela, radiante
E possuidora desse reflexo solar.
Por que te deixas abater?
Contigo aprendi a cantar, Reaprendi a viver, Compreendi o meu destino, E reescrevi a nossa sina.
Hoje, tenho braços fortes para te aconchegar,
Voz altiva para te abrir os caminhos
E armas para te defender.
Olha o sol lá fora!
Ele nos aquece, nos encoraja
E nos faz ver que somos crianças
Desprotegidas longe um do outro,
E somos guerreiros, verdadeiros samurais,
Quando nos damos as mãos.
Por isso, se cairmos juntos,
Cairemos em pé e de punhos cerrados,
E venceremos a morte
Que é mais fraca que o nosso amor.
Sozinho, somos frios e fracos.
Assim, sendo, vem, demo-nos as mãos
Para que possamos cobrir de flores
A nossa estrada
E encantarmos a vida
Com a pureza de nossas almas.
REAPROXIMAÇÃO
Nossas almas são formas Unidas que se fizeram Ao longo dos dias...
Contudo, sua existência infinita
Necessita de uma consistência
Física dos corpos se fazendo presentes
Na busca um do outro
Compreendendo os conceitos de felicidade.
Não nos privemos dessa lógica divina Ofertada pela natureza A nos preparar caminhos Se cruzando a cada instante Confirmando a força e a cumplicidade Na busca de um amor constante Que a realidade torna real Na pureza de sua verdade.
É preciso que os nossos espíritos se misturem Amaciando a solidão de nossos corpos Dando paz as nossas almas.
Não nos privemos dessa realidade Reaproximando-nos E nos tornando mais verdadeiros...
...dê-nos a condição de nos tornarmos felizes.
CANÇÃO PARA UMA AMIGA
AUSENTE
Minha canção fala de ti, amiga,
Mesmo que eu lamente a tua ausência
E não tenhas constante a minha presença.
Sou um vagabundo e sem rumo vou Para onde o vento me levar, vou Mesmo que chore E minhas lágrimas queimem teu peito, Tuas palavras, teu riso e teu olhar.
A minha canção chama por ti, amiga, Mesmo que os outros estejam comigo, E cantem, e toquem, e dancem, e falem Não têm a importância Que, em meu peito, tua alma plantou.
De tudo que eu vi e vivi, De tudo que eu plantei e colhi, De tudo que eu sonhei e realizei, Nada se comparou ao que contigo aprendi...
Aprendi a viver,
Aprendi a chorar e a avaliar
Que um amigo é um bem maior
Que se pode encontrar.
A minha canção fala de ti, amiga, E nem é preciso lamentar a tua ausência Se comigo, hás de ficar sempre.
INTIMIDADE
Só conversaremos com Deus
Na intimidade de nossas solidões
Despidos dos traços negros
Da maldade tentando,
A cada minuto do dia,
A nos afastar da luz branca
E branda da esperança.
Só conversaremos com Deus, Se aliviados de uma dessas dores Que torturam a beleza Que vemos... E temos Na intimidade de nossas almas.
Só conversaremos com Deus
E, com certeza, seremos atendidos,
Se o nosso riso brilhar
Diante da vida
E de nós nos procurando
Porque só em nós mesmos reside
A certeza de um bem-querer tão forte
Quanto à essência desse amor
Solidificando-nos a canção divina
Em nosso caminhar juntos,
Conduzindo-nos à felicidade
Que procuramos e encontramos
Na simplicidade das coisas
Que nos cercam e nos sorriem.