terça-feira, 4 de agosto de 2009

ROMANCE - AS AMAZONAS

AS AMAZONAS
Lenda e realidade se confundem num conto de amor, misticismo, mistério e aventura.





Todos os direitos reservados a
Francisco Marques da Silva

APRESENTAÇÃO

Há dias que eu tentava escrever algo, quer fosse uma trova, um poema ou uma cena de uma nova peça teatral e nada! Parecia até que o dom de escrever desaparecera. Quanto mais eu forçava a mente, mais a dificuldade da escrita crescia chegando até mesmo ao ponto de não conseguir, nem mesmo, elaborar um período e o analisá-lo em sala de aula.
Esse tipo de crise para quem gosta de escrever é terrível. Acredito que todos aqueles que abraçaram o ofício das letras já se sentiram assim, como eu. Todavia, quanto maior a dificuldade, maior a ânsia de pôr as ideias no papel.
Foi num desses momentos de crise que me veio a ideia de escrever sobre AS AMAZONAS. Ainda nas primeiras páginas, eu não sabia como seria o enredo que foi surgindo rápido como se alguém o ditasse para que o escrevesse sem que, ao menos, pensasse em delinear algumas das características dos personagens ou mudar, aqui e ali, o rumo de alguns capítulos. Tudo, personagens, ações e capítulos já estava pronto. Na verdade, eu nunca escrevera dessa forma e gostei da experiência, até mesmo porque, ler sobre o tema, sempre me fascinou desde criança.
Ao entregar os originais para digitá-los, fui apresentado a uma moça que, ao me cumprimentar, beijou-me os lábios, os olhos e a testa e, rindo, disse:
Você gostou muito do que escrevera, não?
Claro, respondi gaguejando.
Tenha calma, muitas coisas ainda estarão por vir. Espere chegar a hora e leve o seu projeto adiante.

Depois se afastou e desapareceu no meio das pessoas presentes na sala em que estávamos.

Fiquei intrigado com a cena, com a moça e com a coincidência de sua ação com a de um dos capítulos do livro. Dela, apenas um leve perfume de rosas ficou em minhas mãos e uma lembrança viva de seu rosto me olhando e rindo.

Acredito que fosse uma das guerreiras e, quem sabe, me ditou o texto telepaticamente?

AS AMAZONAS

Mulheres guerreiras que, segundo lendas da mitologia greco-romana, não conviviam com homens, a não ser em época de acasalamento.
Embora habitassem o Cáucaso e as fronteiras da Cíntia, transferiram o seu habitat para outras regiões à medida que os gregos avançavam e expandiam suas conquistas no Mar Negro.
Atribui-se a elas, a fundação de várias cidades, entre as quais Éfeso, na Ásia Menor. Lutaram com os gregos em Troia, tendo perdido Tentessiles, uma de suas rainhas. Invadiram Atenas quando Terseu rapta Antíope e Hércules arrebata o cinturão da rainha Hipólita. Nessa batalha, foram aniquiladas.
Suas armas são o arco, a flecha, a lança, o dardo, o machado de dois gumes e um escudo com os quais são representadas na arte montada em cavalos.

Toda essa lenda clássica e mais outras foram revividas quando o explorador espanhol, Francisco de Orelhana ( Séc.XVI ), desce pela primeira vez um rio que, pouco depois, recebe o nome de Amazonas. Lá, o explorador encontar mulheres guerreiras, aproximadamente pela foz do rio Janumbá, no interior da floresta. Eles travam, então, grande combate; conta-se, também, que tinham uma rainha chamada Canhori, comandante de, aproximadamente, 70 aldeias.
Elas se vestiam de uma lã finíssima, usavam cabelos longos e, na cabeça, traziam uma coroa dourada; quando em casa, ao amanhecer, abriam a janela e deixavam o sol entrar iluminando o ambiente e o agradeciam por isso; depois iam apanhar os muiraquitãs ou pedras verdes no fundo do rio para oferecerem aos escolhidos como símbolo de felicidade eterna.

Era uma tarde quente aquela de agosto de 88. Talvez, uns 36, 37 graus, eu não me importava muito. A loja, aliás, a imensurável loja de eletrodomésticos estava sufocante e por mais que ajustasse os aparelhos de ar-condicionado não adiantava. Havia muita gente transitando, olhando as vitrinas e, para minha tristeza e desconforto, nada de vendas naquele dia. Parecia e era verdade, o dinheiro era pouco e os aparelhos cada vez mais caros.

Havia mais de cinco meses que a situação era a mesma. Eu pensava que já estava pagando para trabalhar... e estava. Gostaria de ter mudado de ramo, mas fazer o quê? De um lado, o desemprego aumentava ou diminuía nas promessas dos políticos, rolando no ar, naquele ano eleitoral e, por outro, não apareciam, nos editais, oportunidades de concursos.

Era nesse clima terrível, político e social daquele ano que aumentava a minha depressão. Não era bem depressão, era frustração por eu não ter, àquela altura do campeonato, realizado alguns sonhos. Coisas simples: viagens, expor alguns rabiscos nas galerias da cidade ou encher o peito de medalhas nos torneios de karatê regionais. Enquanto me perdia nos sonhos, perdia uma venda, a única do mês.

Outra semana. Tudo seria o mesmo se, mesmo com a preguiça normal de segunda-feira, o dia não tivesse sido iniciado com uma boa venda, à vista, e o chefe do setor pessoal mandasse me chamar para dizer que, a partir daquele dia, eu entraria em férias. Recebi o comunicado com alegria e, ao mesmo tempo, com a preocupação por saber que seriam trinta dias em casa. Talvez, sair com alguma namorada, assistir a alguns filmes, beber umas cervejinhas nos barzinhos esperando as férias acabarem e continuar novamente tudo do mesmo modo que antes.

Saí do departamento contente pelo comunicado. Ao chegar à rua encontrei um velho amigo, batemos um papinho, fomos a um barzinho, trocamos umas idéias e matamos o tempo naquela conversa sem nenhuma importância, indo de mulheres à política, mas ainda sem objetivo ou convicção na defesa dos pontos de vista, apenas conversas.

Despedimo-nos já tarde. Andei despreocupado pelas ruas olhando as vitrinas pelo lado, de fora das lojas e deparei-me, curioso, numa agência de viagens.

Olhei os cartazes, muito bonitos, por sinal, e um chamou-me a atenção por oferecer uma turnê pelo alto Amazonas. Sabe daqueles momentos que você se isola do mundo ao redor e não vê mais nada? Foi assim que eu fiquei. O mundo que estava na minha cabeça era um tropical, cheios de perigos, bichos desconhecidos e fantásticos que eu ouvira falar quando criança.

Ao longe, bem distante mesmo, uma voz fraquinha cumprimentava-me, desejando-me “boa tarde,” “bom dia” sei lá o quê... Eu estava perdido e sentindo-me ainda mais distante do que a própria distância da voz que, quanto mais distante, mais doce, mais suave e, aos poucos, foi entrando sem permissão nesse meu mundo, como se naquele instante nossos caminhos se cruzassem num encontro previamente marcado e, pela primeira vez, dirigi-lhe entanto o olhar... o olhar, aquele olhar dizia tudo.

Não sei por quanto tempo, fiquei parado olhando pra ela. Acho que foi por muito tempo, porque ela ria encabulada de ter-me perturbado. Era uma moça com seus dezenove anos, bem vestida com um terno azul, saia da mesma cor e uma blusa branca por dentro do terno que contrastava com o vermelho claro do batom de seus lábios que, se eu não estava sonhando, diria que ouvi vagamente sair daqueles lábios sensuais uma canção de encantamento qualquer. Algumas palavras que ela pronunciara, eu não compreendi e, num sobressalto, pulei fora daquele sonho acordado:

- Vi que você estava impressionado com a fotografia do cartaz. Gosta de florestas misteriosas? Perguntou-me.

Droga! Onde eu estava com a cabeça? Eu não poderia ter ouvido encantamento nenhum. Aquela moça era apenas uma recepcionista da agência. No

- Gosto - Respondi ainda com o mesmo êxtase de antes.


Gostaria de receber opiniões a respeito do trecho.

2 comentários:

  1. Já conheço este texto. Leve, solto e atual. A estótia gira em torno da lenda das mulheres guerreiras, no entanto o autor tem o senso da realidade, do mundo duro e cruel. Da batalha diaria de cada um pela sobrevivencia. Dos sonhos e frustações. é exatamente neste mundo traumatizado pela rotina do desemprego que ceifa os sonhos de consumo das pessoas que Francisco Marques joga seu personagem central. Esse é o ponto de partida para o poeta, ( poeta porque apesar de ser um texto emprosa está recheado de poesia),viver um sonho de infancia. Porem este texto me trás outras lembrança boas. Lembro-me do filme de mesmo nome produzido pelo autor. Começo dos anos 80, quando era dificil até produzir um jornalzinho escolar em mimiógrafo, O Zé partiu logo foi para um filme. Juntou uma turma de alunos, inclusive eu, e fomos filmar na Barra do Ceará. Tempo bom!

    ResponderExcluir